Em um momento em que a guerra das maquininhas transformou o mercado de adquirência em commodity, o banco digital C6 parece estar chegando tarde.
Até o fim do mês, o C6 lança uma nova geração de maquininhas, arma com a qual planeja enfrentar a próxima batalha dessa guerra. Nessa nova frente, onde Stone e Linx já estão se posicionando, a disputa pelo cliente se dá pela oferta de serviços agregados, e não mais nas tarifas das maquininhas.
A nova maquininha C6Pay é uma plataforma aberta e "multi adquirente", que vem com duas funcionalidades novas no mercado: permite integrar o sistema de pagamento ao software de gestão do lojista; e também integrar o sistema de todas as maquininhas concorrentes em uma única maquininha.
O lojista tem a opção de programar a maquininha para selecionar o adquirente (Cielo, Stone, PagSeguro etc, ou a própria C6Pay) que oferece as melhores taxas e condições para cada uma das modalidades de pagamento — débito, crédito ou parcelado — em cada uma das diferentes bandeiras de cartão.
— O C6 não entra na guerra das maquininhas. A gente entra no mundo de pagamentos oferecendo serviços de integração de conectividade —, diz Philippe Katz, CEO da PayGo, empresa de serviços de tecnologia voltada para o segmento de Pessoa Jurídica do C6.
Na lógica do negócio, a maquininha vai funcionar como um meio para embarcar uma tecnologia chamada TEF (Transferências Eletrônicas de Fundos), que conecta os terminais das lojas aos sistemas de pagamento.
A PayGo é um dos maiores processadores de TEFs do país — transacionou R$ 23 bilhões no ano passado em 355 milhões de operações em 50 mil estabelecimentos. Chamada originalmente NTK Solutions, a empresa foi comprada pelo C6 em 2018.
As TEFs estão embarcadas nas máquinas a cabo de grandes varejistas e redes de supermercados, onde já impera a lógica de uma máquina capaz de operar qualquer adquirente. A nova C6Pay leva o conceito da TEF para as maquininhas móveis, mirando desde vendedores autônomos a empresas de pequeno e médio porte.
A primeira versão da C6Pay foi lançada no ano passado como uma dentre as dezenas de adquirentes do mercado. O número de clientes no primeiro formato ainda é bem pequeno, mas Katz aposta na plataforma aberta para impulsionar o negócio. Até o fim do ano, a meta é alcançar, com a maquininha, de 15% a 20% do volume de transações de TEFs da PayGo.
O negócio das maquininhas já produziu empresas bilionárias como Stone e PagSeguro, mas com o aumento da concorrência e margens cada vez mais achatadas, hoje essas empresas apostam em serviços agregados para gerar resultado.
— O pagamento será cada vez mais meio e menos um negócio em si —, diz o especialsita em meios de pagamentos Boanerges Ramos Freire.
A proposta bilionária de compra da Linx pela Stone, explica Boanerges, atende a essa lógica: oferecer serviços de software de gestão para ajudar o lojista a gerir o seu negócio, e com isso fidelizar o cliente.
O modelo da Stone/Linx é baseado em um ambiente fechado. Todos os produtos e serviços serão oferecidos para a base de clientes dessas empresas. Ao levar o NTF para as maquininhas móveis, a C6Pay permite fazer essa integração em um ambiente aberto.
Para o banco C6, a maquininha da C6Pay é também uma forma de captar clientes para a conta PJ. Quanto maior o volume de produtos e serviços o cliente adquirir com o banco, menor a taxa de aluguel da maquininha da C6Pay — e mais rentável é o cliente para o banco.
Em cerca de um ano de operação, o banco digital fundado por ex-sócios do BTG ainda é pequeno no segmento pessoa jurídica: são 60 mil clientes na conta digital PJ. (Na pessoa física, 2,5 milhões).
Outros bancos digitais já olham o mercado para além das maquininhas. O Inter anunciou que pretende lançar em breve o InterPay, um sistema que permite receber pagamentos no cartão diretamente pelo celular, usando a tecnologia NFC (Near Field Communication).